quinta-feira, 23 de agosto de 2012

PJMP e PJR participam do 6º seminário da cidade
Evento reuniu diversas comunidades do município em momento de reflexão
São Miguel do Oeste

Com o Lema “Vinde Benditos de meu Pai”, a PJMP e PJR, participaram do 6º seminário da cidade no último sábado dia 04, relembrando os 10 anos de morte do Bispo Dom José Gomes, no Salão da comunidade do bairro São Gotardo. O objetivo do encontro é envolver as comunidades para refletir a vida, sendo também um momento de formação para lideranças.

De acordo com o Padre Reneu Zortéa, esse foi o lema da ordenação sacerdotal de Dom José Gomes. “Lema carregado de profecia em favor dos empobrecidos desse mundo, pelos quais Dom José doou a vida e se colocou em missão até seus últimos minutos de vida”, destaca.

Segundo Zortéa, o Seminário da cidade é uma atividade pensada e organizada pelas pastorais e movimentos sociais urbanos. “Buscamos envolver comunidades especialmente as que já têm a experiência da nucleação, jovens organizados nos grupos de base da PJMP, outras experiências ligadas a manifestações culturais como é o caso dos Guerreiros do Batuque e grupo de viola Airumã, mulheres organizadas no MMTU e demais lideranças urbanas de nossas comunidades”, explica.

Ele menciona que o seminário da Cidade é um momento de reflexão e articulação da vida urbana, que perpassa o debate de como é possível avançar no entendimento do espaço em que as pessoas vivem “É importante à presença de todas as pessoas para que conhecer e entender como se formam os espaços urbanos, especialmente onde estão os empobrecidos, bem como celebrar a vida nas pequenas comunidades”, complementa.

Na ocasião, Padre Vilson Grow, que assessorou o seminário, falou de suas experiências vividas na comunidade de Mont Serrat-Florianópolis. Em uma de suas falas, ele reforçou a importância da Igreja nas casas, para reaproximar a vizinhança de Jesus encarnado na vida das pessoas dizendo, “a Igreja somos cada um de nós”, finaliza.





quinta-feira, 16 de agosto de 2012

População pode participar de pesquisa para campus da UFFS na região



A pesquisa que já está disponível á população, pretende ouvir sugestões de interesse para implantação de um campus da Universidade Federal da Fronteira Sul- UFFS no Extremo- Oeste de Santa Catarina



São Miguel do Oeste



O Movimento Pró-Universidade do Extremo-Oeste, em parceria com a secretaria de Educação e demais parceiros, vem se reunindo sistematicamente, para articular ações referentes à expansão da UFFS na região.

Na última reunião, do dia 06 de Agosto, foi encaminhado um questionário de pesquisa referente aos cursos ou áreas do conhecimento para o possível campus. Conforme a representante da coordenação do movimento Pró- Universidade, Jociani Pinheiro, o questionário pode ser acessado por toda a região do Extremo. “O questionário é para toda a região, até porque o Campus será uma conquista para o Extremo-Oeste, em vista da necessidade de uma Universidade Pública para essa região”, destaca.

Jociani ressalta que o objetivo do questionário é tornar o processo de escolha das áreas de conhecimento para o campus mais participativo. “Acreditamos que a juventude precisa se sentir parte da luta assim como todas as comunidades camponesas da região”, enfatiza.

O representante do movimento Pró- Universidade, Charles Reginatto, acrescenta que a intenção do questionário também é realizar uma consulta pública com toda a sociedade, envolvendo professores, alunos e entidades diversas. “Quanto mais gente participar e se envolver nesta luta, mais legitimidade vai haver para então transformarmos este questionário em um documento de diagnóstico que será analisado e oficializado pela reitoria com a decisão de quais cursos serão trazidos para o Extremo- Oeste”, complementa.



MOVIMENTO

Segundo a representante do movimento Pró- Universidade, Jociani Pinheiro, o movimento vem crescendo muito na região, o que fortalece a luta pelo campus. “O crescimento do movimento nos anima, porque é uma luta concreta. Nós temos um forte apoio da Pastoral da Juventude Rural e Pastoral da Juventude do Meio Popular que são parte desse processo desde o início, ainda quando a UFFS era só um sonho”, destaca.



QUESTIONÁRIO:

O questionário está disponível e já pode ser acessado através do site da prefeitura de São Miguel do Oeste no www.saomiguel.sc.gov.br , e no blog da Pastoral da juventude do meio popular e Pastoral da juventude Rural no http://juventudecampoecidade.blogspot.com.br.

Ensino Superior Gratuito

Extremo Oeste quer Campus na região

Deputado Garante apoio à expansão do Campus da Fronteira Sul para São Miguel do Oeste

São Miguel do Oeste

Na última sexta-feira, dia 13, autoridades, coordenação do movimento Pró- Universidade, Via Campesina, representantes dos Movimentos Sociais Urbanos, representantes de Paróquias, Juventude da PJMP- Pastoral da Juventude do Meio Popular, PJR- Pastoral da Juventude Rural, PJ- Pastoral da Juventude e outras organizações, participaram de uma reunião na Câmara Municipal de Vereadores a fim de discutir Sobre a necessidade e a importância de um campus da Universidade Federal Fronteira Sul no Extremo-Oeste.

A coordenação do Movimento Pró-Universidade fez um breve relato histórico do processo de luta pela UFFS, a qual é fruto dos movimentos sociais e da organização popular. A coordenação lembrou-se dos acordos feitos entre os três estados do sul, e reforçou que tais acordos devem ser respeitados e reassumidos. Durante o debate as lideranças presentes assumiram o compromisso de fortalecer o movimento Pro-Universidade, e como encaminhamento ficou definido um grupo de trabalho, que dará as linhas políticas e os demais passos em torno da luta pelo Campus do Extremo Oeste, este grupo será formado por lideranças representantes de entidades, movimentos sociais, pastorais e Igreja, professores/educadores, entre outros.

A representante da Coordenação do Movimento Pró-Universidade, Jociani Pinheiro, destaca que além de pensar e discutir em qual município será o Campus ou os cursos (área do conhecimento) é preciso ter os pés no chão. “Temos que ter clareza que existiu e existe um processo de luta e organização popular. Foram os movimentos sociais que garantiram a UFFS em Chapecó, e agora precisamos de todas as forças para trazer um campus para o Extremo Oeste. Junto de toda essa luta diante da vinda de um Campus queremos construir debate sobre a permanência dos educandos na Universidade bem como garantir que ela seja de fato Publica e Popular”, enfatiza.

 O grupo de trabalho organizado vai pensar as próximas propostas de organização e mais adiante será feito uma conversa com a sociedade, empresariados, setores do comércio, da educação (escolas públicas e particulares) para debater em um seminário maior as necessidades da região do Extremo Oeste.

Após está reunião, outro encontro ocorreu na noite de Ontem, dia 16, em Chapecó, onde as mesmas lideranças estiveram realizando uma conversa com a Vice Reitoria da Universidade a fim de esclarecer e dialogar sobre o posicionamento do movimento com a Universidade e o posicionamento da Reitoria com o movimento. Uma próxima reunião deverá ocorrer com as lideranças dos municípios, prefeitos, vereadores, deputados e movimentos sociais.

Histórico

O movimento Pró Universidade foi criado a partir dos três estados do Sul, (Rio grande do Sul, Paraná e Santa Catarina) na luta pela vinda de uma universidade da meso região que fosse Fronteira Sul, ou seja, o Oeste e Extremo Oeste seria comtemplado com um Campus assim como as fronteiras do Rio Grande do Sul e do Paraná.

 O representante do movimento Pro-Universidade, Charles Reginatto, explica que há alguns anos atrás o Extremo Oeste abriu mão de mais um campus para poder ficar com a sede em Chapecó para então garantir um campus no Paraná e outro no Rio Grande do Sul. “Porém agora eles já estão com dois campi e nós continuamos apenas com a sede”, enfatiza.

Reginatto relata que vários acordos foram firmados na época e estabeleceu-se que depois do campus fixados nos estados, Santa Catarina ganharia mais dois campi, um em São Miguel do Oeste e outro em Concórdia. “Agora o Governo liberou para o Sul 40 vagas para o Curso de Medicina, o que de fato não corresponde aos acordos firmados, por essa razão estamos envolvidos nesse debate do curso de medicina e o movimento Pro- Universidade tomou a decisão política de que nós devemos somar força no Extremo Oeste e garantir o campus para a nossa região”, reforça.

O Estudante Tayson Bedin, da Pastoral da Juventude Rural, reforça que o momento tem sido de organização. “Em 2007 a PJMP, PJR, Movimentos Sociais, escolas, diversas autoridades e organizações, reuniram cerca de duas mil pessoas e realizaram uma caminhada pela cidade de São Miguel até a Praça Walnir Bottaro Daniel para reivindicar a Universidade Pública e Federal. Nesse ato também estavam presentes alguns deputados que se comprometeram com a nossa luta, e agora é o momento de chamar de volta essas pessoas para contribuir”, conclui.

Encaminhamentos Políticos

O Deputado Estadual, Padre Pedro Baldissera, enfatiza que hoje, a luta pela universidade é em defesa á garantia de um ensino superior e de qualidade, para que a juventude rural do Extremo Oeste, e demais trabalhadores, possam ter uma formação digna e gratuita. “Vamos continuar trabalhando nesta linha de organização e articulação do movimento Pro- Universidade e demais organizações políticas por entender que a nossa região está vinculada á agricultura familiar, até o fato de termos sido, durante muito tempo, preteridos em termos de políticas públicas voltadas a nossa população”, destaca.

Baldissera lembra que a luta pela universidade veio graças à organização de diversos movimentos e entidades, “No princípio das discussões, se colocou o debate sobre o local de implantação, e a região Extremo Oeste, para viabilizar o projeto, aceitou a implantação em Chapecó com o condicionante de um campus no Extremo ser prioridade, então, hoje a nossa luta é para garantir a permanência desse campus em São Miguel do Oeste e nós vamos estar apoiando e participando ativamente dos debates que devem acontecer em breve”, conclui.

Enquete:

O que um Campus da Universidade Federal representa para São Miguel do Oeste?

“Eu acho muito importante um campus da Universidade Federal aqui em São Miguel do Oeste porque eu tenho as minhas crianças na escola e uma delas já está quase na idade de rntrar para uma faculdade e eu não tenho condições de pagar. Então se tiver uma universidade pública fica muito bom para todos nós”. Lauro de Souza, 45 anos, Calceteiro



“Seria o Ideal. Não é fácil para conseguir pagar uma faculdade, embora exista o Prouni e outras bolsas, é muito difícil de conseguir, Se tivéssemos uma universidade pública que igualasse as condições tudo seria mais fácil”. Marli Bedin, 45 anos, Doméstica

A maioria da Juventude sonha hoje em fazer um curso superior, e muitas vezes não tem condições financeiras e acabam deixando de lado esse sonho e se submetem a trabalhos braçais como, por exemplo, ser servente de Pedreiro que é um trabalho pesado e não exige muita capacitação. Penso que é importante que a juventude tenha acesso ao ensino superior e tenha um ensino de qualidade para também conseguir um trabalho digno e possa se dedicar á outras atividades”. Weslley de Souza Padilha, 18 anos, Servente de Pedreiro

Um campus da Universidade Pública facilitaria muito a vida de todo mundo que sonha em cursar o ensino superior. Eu estudo em uma universidade que se diz comunitária, mas que possui um valor absurdo nas suas mensalidades, mas eu trabalho basicamente para pagar o meu estudo, pois meus pais são agricultores e não possuem condições para pagar o meu ensino”. Daniela Scarioto, 19 anos, Estudante









sexta-feira, 1 de junho de 2012

Dando Voz e Vez a quem você pouco ouve!!!! Reportagem feita com os Catadores de Materiais Recicláveis de São Miguel do Oeste- SC

Nas contradições, o modo de olhar e de agir fazem a diferença

Quantas vezes você jogou a dignidade deles no lixo? Eles reciclaram e construíram de novo

Todo ser humano é guiado por algum sentimento que determina suas ações no mundo onde está inserido. Consequentemente essas ações determinam seu roteiro de vida. Assim é a maneira de viver de todo brasileiro, especialmente de Juvenal, catador de papelão, 52 anos de idade, que ganha à vida catando material reciclável para vender e garantir o pão de cada dia. Juvenal é aquele cidadão que como muitos, acordam cedo e percorre a cidade de São Miguel do Oeste com seu carrinho a procura de materiais que possam ser reciclados e vendidos.  Garrafa plástica, alumínio, papelão, cristal, que são fontes de renda para Juvenal que mora sozinho no bairro Salete e mantém seu porão onde faz a seleção do material que será comercializado para alguma empresa de coleta.
Desde cedo conviveu com as dificuldades da vida, ele conta que as oportunidades para um garoto nascido em Itapiranga eram raras, por isso sua família viajava muito em busca de uma qualidade de vida melhor. Atualmente Juvenal que trabalha há dois anos neste segmento fazendo uma média de R$ 550,00 por mês, percebe que mesmo sendo autônomo, sente falta de algumas regalias que as pessoas cujos direitos estão garantidos pela previdência conseguem ter. Mesmo não tendo oportunidade de estudar, Juvenal vive bem, convive com certos preconceitos, mas ele garante “Eu cuido do que eu faço e pronto. Se alguém achar feio o problema é dele”, enfatiza.
Decidido e bem humorado, ele conta que nos dias de chuva o trabalho continua. Esta sempre envolvido com alguma atividade.
Falar sobre educação com Juvenal é surpreendente, “Os jovens precisam estudar, porque o que não falta hoje é isso, meios de estudo, esse tipo de trabalho que faço não é nem de pensar para um jovem”, menciona. Mas refletindo um pouco “todo trabalho é digno para qualquer pessoa”, destaca.
Com seu jeito simples, voz sofrida e assustada, Dona Rosinha de 58 anos de idade é mais uma trabalhadora que vive as margens do sistema capitalista e tenta sobreviver fazendo a sua parte e de mais algumas pessoas na coleta seletiva do lixo. Será que alguma vez o Brasileiro já parou para pensar na sua contribuição ambiental enquanto pessoa? Dona Rosinha pensou, e com seus 58 anos de idade possui uma força maior que a coragem de muitos governantes, a força dela chama-se vontade.
Dona Rosinha mora na periferia do bairro Santa Rita em São Miguel do Oeste com mais sete filhos e netos, recebe ajuda do governo para alimentar as crianças, mas não é o suficiente, por isso, a submissão ao trabalho nesta idade é necessária para o sustento da família. Segundo ela “Não há como viver sem ajuda destes programas, pois quando fico doente ninguém trabalha por mim”, explica.
A catadora de material reciclável diz que não consegue se aposentar, pois nunca recebeu instrução para realizar os encaminhamentos necessários (E provavelmente não vá receber se depender de “certos”).
O trabalho informal no Brasil é muito comum, no município de São Miguel Do Oeste estima-se que mais de 100 famílias fazem parte de alguma associação ou cooperativa de catadores, sem contar com as pessoas que trabalham de forma autônoma. O catador de papelão é aquele sujeito que buscou no desperdício de alguém uma forma de gerar renda sem precisar explorar outra pessoa e garantir o seu sustento, simples assim. A vida de um catador parece triste, sofrida o bastante para ser motivo de chacota, mas não é. Infeliz daquele que assim pensar. Se calcularmos a carga horária deste trabalhador somado com a autonomia no trabalho, dividido pela seleção coletiva de material será igual á: Menos de quatorze horas trabalhadas por dia somadas com a disponibilidade de tempo para ir ao médico cuidar da família resolver problemas pessoais e ainda se dividirmos isso tudo com o conjunto da matéria final então vamos perceber que estas pessoas são mais felizes que muitas famílias burguesas que limitam seu tempo ao trabalho, ao lazer individual e ao dinheiro.
A juventude do meio popular também pensa assim. Para a estudante Claudia Baungardt, de 16 anos de idade, a sociedade vê o trabalho dos catadores como uma problemática, mas não é. “Somos um povo de uma mesma raça, porém mestiça, temos trabalhos diversificados e estas pessoas cumprem o seu papel na sociedade, são mais que trabalhadores, fazem o que nós deveríamos estar fazendo na nossa casa. Por isso a minha indignação é maior que o meu preconceito”. Comenta.
O estudante Jacson Sonáglio, de 17 anos de idade, destaca que os catadores são pessoas admiráveis, exemplo para muita gente. “Não catam lixo e sim, material reciclado”. Para ele, essas pessoas são dignas, pois estão agindo para salvar o meio ambiente, “Coisa que nós deveríamos nos conscientizar”. Salienta.
De fato, a preocupação dos jovens é relevante, o percentual de lixo produzido pela população migueloestina é alarmante, em menos de um mês de coleta a Acomar (associação de catadores de lixo de São Miguel Do Oeste) conseguiu vender cerca de 13.900 kg de material reciclado. Os números apontam para um crescimento significativo comparado ao que se produzia nos anos anteriores.
De acordo com a associada da Acomar , Vilma Prazito, de 56  anos de idade, Puxar papel se tornou mais fácil do que trabalhar de empregada doméstica. Para a trabalhadora, 10 anos de associação possibilitou mais autonomia, ela conta que puxa 3.000 kg por mês para garantir um salário mínimo. Embora sofra com preconceito de algumas pessoas como “Vem aqui que eu vou dar algum lixo para você”, ela conta que se sente privilegiada, pois esta limpando a cidade e contribuindo com o meio ambiente.
A presidente da acomar, Justina Pereira da luz, de 38 anos de idade, trabalha há 14 anos na associação, sendo três de presidente. Ela comenta que a associação faz uma divisão justa com todas as famílias, desde que haja consenso e trabalho conjunto. A Acomar faz reuniões periódicas para controlar a quantidade de material que entra, que é separado para a empresa Tucano e o que sai para venda exclusiva da associação. A triagem é feita separando-se os materiais por cores e categorias para que os fardos estejam de acordo com a política de venda do material.
Justina desenvolve duas funções trabalhistas, a primeira delas é na Acomar como presidente e catadora, já a segunda é cozinheira de um restaurante da cidade, isso porque o preço pago pelo material é muito baixo, o papelão, por exemplo, é cotado em 30 centavos o fardo, o alumínio custa em média R$1,50 a latinha, o cristal 0,90 centavos, o pet chega a custar R$ 1,40 e o vidro 0,03 centavos. Desse modo, algumas famílias conseguem viver bem com a renda mensal outras, nem tanto, “Depende muito da necessidade de consumo de cada um”, explica.
Embora o preço pago pelo material seja desproporcional em relação ao trabalho que é realizado, Justina destaca que vale a pena “A associação foi fundada em 1999 pelo sindicato dos bancários e de lá para cá tivemos muitas conquistas”, ressalta.
Na dura rotina de vida, o modo de olhar e agir das pessoas pode significar muito para os trabalhadores informais, Eliane, de 29 anos de idade, catadora há seis anos, conta que quando não é maltratada é simplesmente ignorada pela sociedade, quando sai de casa com o seu carrinho as pessoas ou falam mal ou fazem de conta que eles não existem, muitas vezes são acusados de roubo e maltrapilhos “Eu não tenho vergonha do que faço, minha filha tem nove anos de idade e na escola ela ensina a professora e os colegas como fazer a reciclagem porque na minha casa a gente não coloca nada fora”, destaca.
Pensando nisso, fui às ruas para ver o que as pessoas pensavam sobre o trabalho dos papeleiros e me surpreendi com os depoimentos.
Para a Bibliotecária, Isaura Bassin, “Se a humanidade continuar nesse ritmo de consumismo, poluição e principalmente se as pessoas não reciclarem o lixo domiciliar, enfrentaremos problemas ainda maiores do que enfrentamos hoje. O lixo deve ser reciclado em casa para facilitar o trabalho de quem faz a coleta. Nós não queremos um planeta lixo”, menciona.
O adolescente de 16 anos, Altemir tibolla, comenta que os catadores de produtos recicláveis exercem um trabalho digno, mas é visto com muito desprezo pela sociedade, ele questiona a carência que existe por parte dos órgãos públicos em relação ao trabalhador informal “Muitas vezes o poder público gasta dinheiro com coisas fúteis ao invés de dar melhores condições de trabalho para estas pessoas”, enfatiza.
Todavia, julgar de quem é a responsabilidade é uma questão de políticas públicas do governo Municipal, Estadual, Federal e da própria União, não basta falarmos em campanhas de conscientização se a sociedade não esta preparada por justamente não entender o seu próprio processo de construção humana. Quando não se compreende a história de vida do povo então não se entende de política, de governo, de cultura popular. Para entender a necessidade dos catadores de papelão é preciso estudar a construção histórica de nossa sociedade, da ética e da moral para então propormos alternativas.
A moral é construída historicamente, dependendo do contexto social e das relações de consciências que se estabelecem. A sociedade constrói modelos de relações, determinam valores, regras morais que são seguidas tradicionalmente por muitas famílias brasileiras. A diferença, é que na moral as pessoas são influenciadas ou mesmo manipuladas por um determinado dogma. Em contra partida, para entender a ética é preciso compreender o homem em sua essência, desde o estado de natureza até a adesão ao estado civil, isto é, sociologicamente e filosoficamente.
Na sociedade medieval, por exemplo, o medo e os preceitos religiosos eram fortes correntes dos quais determinavam o comportamento dos indivíduos dentro de um contexto de submissão, fragilidade psicológica, ameaças enfim, neste modelo a moral era predominante, não havendo discurso democrático ou mesmo popular.
Com tais diferenciações, somos levados a entender que o sistema social, político, econômico e cultural onde a ética e a moral estão inseridas determinam o comportamento humano formando um todo com anseios individuais. Dai a resposta para o preconceito em relação aos trabalhadores informais.
Dessa forma, moral e ética foram construídas dentro de um modelo capitalista de produção, sobrepõe-se o lucro a pessoa humana, O outro se torna importante, capaz, ”amigo” quando pode ser útil a uma pessoa, a partir do momento que sua tarefa torna-se desnecessária, perde-se utilidade, capacidade e amizade. Tudo esta vinculado a um jogo de poder individual onde a riqueza para ser multiplicada não pode ser dividida. Então, surge o questionamento: onde esta o cuidado com a pessoa humana? O que é ser humano de fato? Qual é a posição do pensamento ético nesse contexto de vida dos catadores?
De fato, estabelecer a prática ideal da ética numa sociedade capitalista é desafiador, isso porque, somos indivíduos éticos quando nos importamos com o outro, quando os problemas comuns começam a fazer parte do nosso cotidiano, a nossa cultura, tradição, fundamentam a nossa ética a nossa  moral e no mundo capitalista nós podemos fundamentar uma análise diferenciada do que pressupõe o sistema, não nascemos prontos, possuímos a capacidade de construir nosso modo de agir, de respeitar, de pensar. Fazemos escolhas e delas surtem os efeitos.
Diante desse fundamento, a ética é o estudo dinâmico da moral num âmbito de diversidades, é a filosofia que estuda a origem e a fundamentação humana através de costumes e culturas. Não existe ética sem ação social, sem valor e moral. A ética preocupa-se com a violência, quando exigimos que as outras pessoas mudem por nossa causa ou quando tentamos definir comportamentos então estamos sendo antiéticos. Por que definir um padrão de beleza ou de status se a nossa realidade é diversional?
Quando uma pessoa limita-se a sua moral ela se enclausura em uma liberdade que não possui e torna-se incapaz de refletir sobre a sociedade e compreender o outro. “Sócrates já dizia “conhece-te a ti mesmo” e eu complemento:” Assim compreenderás o próximo”. Pensando como o filósofo, temos que fazer da filosofia uma prática comum. O papel ético da filosofia é refletir o meio, problematizar e oferecer alternativas, a ética precisa vir acompanhada da crítica para ser legítima assim como a democracia. E cuidar da pessoa humana significa valorizar a nossa essência.
A sociedade muda quando os indivíduos mudam, quando passam a compreender que a dignidade de uma pessoa não pode ser jogada no lixo. O papel social dos catadores de papelão são uma das poucas ações que de fato acontecem em nosso meio para diminuir os impactos ambientais em nosso município. Já dizia Albert Schweitzer, “Vivemos em uma época perigosa. O homem domina a natureza antes que tenha aprendido a dominar a si mesmo”. E isso é fato. Os catadores de papelão não possuem as melhores condições de vida e de trabalho, mas lutam diariamente por respeito, consideração, e buscam acima de tudo sorrir para os problemas e para os impasses que impedem com que sejam valorizados, pois acreditam que em algum momento da história a humanidade compreenderá a necessidade do cuidado com as pessoas e com o mundo, ou pelo menos, sentirão fortemente na pele as dificuldades de uma nação em crise, não só econômica, mas ambiental também. (O que já me parece comum nos dias de hoje)
“Quem de três milênios, não é capaz de se dar conta vive na ignorância, na sombra, á mercê dos dias, do tempo”. (Johann Wolfgang Von Goethe)




quinta-feira, 31 de maio de 2012



Oficina de Comunicação Popular com o grupo de base do município de Guaraciaba- Utilização da técnica do Estêncil